segunda-feira, 25 de maio de 2015

MEMÓRIA CULTURAL - PILÃO

PILÃO
Mulheres de Cabo Verde, utilizando o Pilão

               O pilão tem sua origem árabe, mas foi na África que ganhou afirmação, chegando ao Brasil no período colonial, trazido pelos negros. Trata-se de  um utensílio doméstico, de madeira, fixado ou não  ao chão, muito utilizado nas nossas casas, com formatos  variados, seja arredondado, quadrado; ao meio há um espécie de buraco, em que se depositava o alimento ou ingredientes para ser triturado com ajuda de outro elemento integrador deste artefato: a mão de pilão; o ato para este movimento pode ser feito com uma ou mais pessoas, conforme o tamanho deste.
            No Vale do Jequitinhonha usa a expressão normalmente “socar ou pilar”; no movimento sincronizado, quase uma brincadeira em constituir o ato de bater e levantar a mão de pilão , soando como uma acústica rítmica na produção de triturar o alimento, como é o caso do café . Antigamente  depois de  retirado do pé, secado ao sol, era levado ao pilão  com o propósito de  retirar a casca , peneirava e assoprava até render sacas ou  produção expressiva para aquela casa, no entanto o processo ainda prevalecia, pois tinham de torrar a semente(levar a semente ao fogo, mexendo para não pegar cheiro) depois de torrado, o efeito através do cheiro e a fumaça, exalava para o bairro inteiro; o café era socado, peneirado de forma bem  fininha e colocado em latas com tampas; posso salientar que era comum  o aproveitamento de latas de banha ou de leite Ninho. Poderia elencar inúmeros trabalhos e receitas como: descascar arroz, socar o milho pra extrair a farinha de milho, as paçocas de: amendoim, carne seca, gergelim, bofe, etc.
        O folclorista Luiz Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro (1954) relata a predominância da utilização do pilão:
  
(...)na África os esparregados de plantas cruas são feitos no pilão. No Brasil, o milho era seu freguês clássico. A massa ou xerém para o cuscuz, canjicão, bolo de milho, a batida para ‘tirar o alho’, eram serviços de pilão. ...O arroz da terra, avermelhado, era descascado no pilão. Havia várias formas de retirar a casca sem quebrar o grão. O café, depois de torrado no caco, panela rasa, de barro, ia ser pilado. Como o milho e a paçoca. Pilavam horas e horas. Essas operações eram confiadas às mulheres. Quase sempre duas, no mesmo pilão, alternando as pancadas, e cantando.
(...) Na cozinha, os utensílios, como o pilão, tinham para os negros e indígenas uma importância que o português desapercebeu, mediante outras maneiras de esmagamento, no almofariz ou gral. Dava um sabor inesquecível aos alimentos feitos com essa preparação. O café pilado jamais poderia comparar-se ao café moído à máquina, na opinião popular, saudosa do pilamento insubstituível. A paçoca exigia o pilão, sob pena de não ser paçoca. Na África, os esparregados de plantas cruas eram feitos no pilão. No Brasil, o milho era seu freguês clássico. A massa ou xerém para o cuscuz, a canjica, o bolo de milho, eram batidos os grãos, para “tirar o olho”, no pilão (LIMA, 1999, p. 50).


            Na religião ou na cozinha, o pilão ganhou notoriedade no Brasil , pois era comum  junto ao enxoval da noiva e os dotes que se ofertava, havia um pilão,  muitas vezes confeccionado especialmente para aquele casal e presenteado a noiva.
            Apesar de não estar mais em evidência na sua utilização, caindo de moda decorrentes as descobertas tecnológicas, facilitou a vida de muita gente, mas o pilão ganhou elemento agregador, servindo de adorno  na decoração de ambientes rústicos e de requinte. 
            Na música, o artefato também ficou registrado na música “Cintura Fina”, de  Luis Gonzaga:


Cintura Fina

Minha morena, venha pra cá,
Pra dançar xote, se deitar em meu cangote,
E poder cochilar,
Tu és mulher pra homem nenhum,
Botar defeito, e por isso satisfeito,
Com você eu vou dançar.

Vem cá, cintura fina, cintura de pilão
Cintura de menina, vem cá meu coração

Quando eu abraço essa cintura de pilão,
Fico frio, arrepiado, quase morro de paixão,
E fecho os olhos quando sinto o teu calor,
Pois teu corpo só foi feito pros cochilos do amor.

Por



Nenhum comentário:

Postar um comentário

O sonho do Instituto Federal Quilombola

    Arte: Jashad Macbee Depois de meses de lutas, expectativas, articulações e medos, no coração da renovação educativa e cultural do Br...