quinta-feira, 1 de novembro de 2018

GIRO PELO VALE - A mestra artesã Zefa deixa cultura do vale em luto


E com pesar que recebemos a noticia que essa grande mulher, nordestina, guerreira e uma artista impar fez a sua passagem espiritual, escolheu o vale para ser seu lar, nos deixou sua arte imortalizada para essa e futuras gerações, a nós do vale só nos resta dizer muito obrigado por tudo, que nossa Senhora do Rosário a conduza ao braços do pai.
Cabeças, bichos, barulho do toque da madeira, formão na mão, inspiração, hoje a madeira não virará arte, carregará a artista, que em planos maiores outras esculturas escupirá, fazendo da eternidade uma bela e grandiosa galeria de arte com a marca de uma grande mulher
Jô Pinto
Histórico
Nascida no interior de Sergipe, na cidade de Poço Verde, no ano de 1925, Josefa Alves Reis, filha de João Alves dos Reis e Josefa Batista dos Reis, foi criada no sertão da Bahia, driblando a seca. Durante uma delas acabou indo para Araçuaí, em 1962, onde começou a talhar a sua história. Em Araçuaí, junto com Francisca, sua cunhada e grande amiga, que trabalhava como doméstica, Josefa foi buscando seu caminho e rompendo na vida
A Zefa artesã não veio de repente, passou cerca de dez anos de sua caminhada buscando encontrar sua verdadeira vocação que é o artesanato. Começou com pinturas e obras em barro, na verdade, uma mistura de barro úmido, farinha de trigo e cinza. Até sua matéria prima era original.
Abandonou o barro, após três breves e criativos anos, por acreditar que trabalhar com material estava prejudicando sua saúde.
Escolheu então a madeira e esculpiu com traços firmes e originais a sua obra.
Zefa se tornou mestra, conhecendo e sabendo como poucos explorar em suas peças as características naturais das madeiras da região. Emburana, cabiúna, vinhático, cedro, aroeira, braúna preta, jataipeba e outras. O que a natureza rica do Vale fornecia, ela transformava em arte.
Ela conta que hoje possui peças com colecionadores e amigos na Alemanha, França, Itália, Áustria, Holanda e nos Estados Unidos. Mesmo sendo uma das mais premiadas e importantes artistas do Vale do Jequitinhonha, vive de maneira simples e humilde. Nunca se preocupou em acumular posses. Sempre que vendia um de seus trabalhos, preferia comprar um bom pedaço de carne e fazer uma festa com seus vizinhos e amigos.
Desde a morte de Francisca, sete anos atrás, Mestra Zefa quase não trabalha mais a madeira com formão, facão e machado. Mas ainda orienta seus discípulos e recebe bem os visitantes, dividindo suas longas histórias e sabedorias acumuladas ao longo de uma vida.
*Adaptado do texto de João Teixeira Júnior






Fonte:www.ufmg.br/proex/cpinfo/saberesplurais/artista/mestra-zefa/



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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

OPINIÃO DO BLOG - NEABI - Uma porta de dialogo entre os povos tradicionais e o campus IFNMG de Araçuaí


     
Fotos: Lori Figueiró
A história nos mostra que a educação em nosso país, sempre foi elitista e preconceituosa, as minorias tiveram pouco ou nenhum espaço dentro das instituições de ensino federais ou estaduais. Esse reflexo se deve principalmente pela exclusão de negros e indígenas, que não tiveram  oportunidade  no Brasil Imperial  ou período Republicano, permanecendo séculos de separação  e com  seu direito ao estudo, negado.
Precisamos de mecanismos políticos para estar presentes nestas instituições, a política pública de inclusão dessas minorias,  no ensino superior, não são boas ações de  políticos, mas, uma reparação histórica que o estado tem com esse povo.
Quando negros e indígenas se adentram nestas instituições de ensino,  se sentem peixes fora da água, pois estas não foram feitas para receber este público, e, os profissionais em sua maioria  vem de uma formação em que,  a instituição pública é um patrimônio da elite, o qual não torna favorável a esta minoria que consegue alcançar o ensino superior, nem contribui para que estes se sintam no espaço,  que é também seu, por direito.
A resistência e persistência deste povo é bem maior, mesmo com todas as adversidades, cada vez mais estão ocupando todos os espaços de ensino e transformando de tal forma, que já é possível sonha-lo com a  cara do povo brasileiro -  “ Plural e Diverso ”  tanto no corpo discente como no docente.
No Vale do Jequitinhonha, as Instituições públicas federais que chegaram neste decênio, renovaram as esperanças de poder ter um curso superior na região,  sem  precisar  esta longe da família  para ter um estudo de qualidade, porém, estas instituições de ensino também vieram carregadas de seus preconceitos e, o povo negro e indígena que conseguiram acessar tal direito,  sentem na pele, a diferença de tratamento, pois , sentem que  estão em um espaço que não foi feito para eles, mas mesmo assim ocupam, resistem  e  mostram com a sua cor,   crenças,  cultura e muita  luta.
Neste decorrer de luta incessante, conseguiu-se alguns fios de esperanças brotando, portas se abrindo aos poucos, como os NEABIS- Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas.  Especialmente o NEABI –  Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas do campus do IFNMG – Araçuaí, nascido da base com discussões e propostas coletivas de estudo e formação.
Aconteceu nos dias 10,11 e 12 de agosto, com participação dos povos tradicionais indígenas, quilombolas e outras pessoas envolvidas em movimentos culturais e sociais , estiveram presentes no 1º Ciclo de Formação do nosso NEABI,  na Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, na cidade de Araçuaí, MG, que proporcionou momento de encontro, troca de experiência, formação e convivência.
Conscientes que  há um árduo caminho a seguir, passos longos a trilhar, mas, este primeiro encontro, foi capaz de revitalizar os pensamentos de luta, por direitos e a defesa por educação pública, de qualidade e de igualdade.   
  Trouxe ainda a todas as pessoas participantes deste uma sensação de bem estar, por saber que é possível pensar num mundo, numa sociedade e uma educação diferente, de igualdade e respeito as pessoas e a sua cultura.





“Nenhum ser humano é uma ilha... por isso não perguntem por quem os sinos dobram. Eles dobram por cada um, por cada uma, por toda a humanidade. Se grandes são as trevas que se abatem sobre nossos espíritos, maiores ainda são as nossas ânsias por luz. (...) As tragédias dão-nos a dimensão da inumanidade de que somos capazes. Mas também deixam vir à tona o verdadeiramente humano que habita em nós, para além das diferenças de raça, de ideologia e de religião. E esse humano em nós faz com que juntos choremos, juntos nos enxuguemos as lágrimas, juntos oremos, juntos busquemos a justiça, juntos construamos a paz e juntos renunciemos à vingança.“

Leonardo Boff


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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

MEMÓRIA CULTURAL -Imagens Sacras de Berilo restauradas

Foto:  pagina facebook Alê

             Há dois anos atrás a Paróquia Nossa Senhora da Conceição da cidade de Berilo solicitou a FAOP – Fundação de Artes de Ouro Preto a intervenção  para o restauro das Imagens de Nossa Senhora da Conceição, Santa Efigênia e Santo Antonio. O Conselho Municipal de Patrimônio Cultural deliberou e aprovou o restauro das mesmas, a prefeitura contratou um especialista em restauro de imagens barrocas e na FAOP foi feita toda restauração das imagens.
             As imagens são datadas do século XVIII, sendo que a imagem de Nossa Senhora da Conceição chegou em 1729, data em que foi criada a Paróquia no Arraial de Água Suja, hoje Berilo, já as Imagens de Santa Efigênia e Santo Antonio, pertenciam a antiga Igreja de Nossa Senhora do Rosário, demolida na década de 1980
               Varias são as imagens sacras no vale do Jequitinhonha que precisam de restauro, poucas são as políticas publicas para a preservação destes bens que ajudam a contar nossa História, a iniciativa de Berilo com todas as parcerias é louvável, porem o município ainda tem mais de 18 imagens sacras esperando a oportunidade e recursos para serem preservadas as gerações futuras.
             Acredito que é necessário se pensar uma política especifica  para a preservação do Patrimônio material no Brasil, temos a consciência que a política de ICMS Cultural adotada em Minas Gerais, proporcionou alguns resultados, mas ainda são poucos diante das demandas históricas do estado, principalmente no Vale do Jequitinhonha.
          Que a população de Berilo e de todos que admiram a história possam visitar e conhecer um pouco mais das histórias dessas imagens: Nossa Senhora da Conceição, Santa Efigenia e Santo Antonio, agora restauradas e preservadas para serem admiradas por todos nós.

Foi um dia de muita emoção pra mim. Ir até Ouro preto para receber as Imagens sacras que foram restauradas pela FAOP. Nossa Senhora da Conceição na minha infância fui consagrado a ela em um momento muito delicado. Santo Antonio,o qual minha comunidade tem forte devoção. E Santa Efigenia. Sou congadeiro e veja sua figura como um marco da historia negra.

Alê do Rosário
Congadeiro e Diretor do Departamento Municipal de Cultura de Berilo

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

GIRO PELO VALE - Comunidades quilombolas do Vale do Jequitinhonha, tem sua primeira remanescente a ingressar no Mestrado em Antropologia Social da UFMG em Belo Horizonte

Foto: Arquivo Pessoal de Raquel


        Quantas vezes ouvimos a frase: “sonhar não é poder", e, muitas vezes desistimos de sonhar porque muitos não acreditam que você realmente pode, e dependendo de sua etnia e da posição social que você se encontra este direito de sonhar é cortado a todo momento, mas essa realidade vem mudando, nosso povo está empoderando-se, no reconhecimento fisicamente e intelectualmente, e assim as portas vão se abrindo pela persistência do “estudar”, o estudo é o caminho que nos leva a realizar sonhos.
         E agora uma dessas sonhadoras acaba de mostrar para todos nós que pode e deve ter sonhos cada vez mais altos. Raquel de Souza Pereira tem 23 anos, filha de agricultores familiares, nascida na comunidade quilombola de Morrinhos, localizada no município de Berilo, sempre foi uma menina engajada nas ações de luta pelos direitos de seu povo, seja na luta contra o avanço da monocultura do eucalipto, na luta por igualdade de gênero, na luta pela garantia dos direitos das comunidades quilombolas. Dedicada, sempre estudou em escola pública e teve nos livros a inspiração dos sonhos possíveis.
     Graduou-se no Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais – IFNMG /campus Araçuaí.
    Participou num período de 06 meses do processo seletivo no Programa de Pós - Graduação em Antropologia Social  (PPGan) da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - FAFICH, na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. No qual foi selecionada com uma excelente nota, tornando-se a primeira descendente de quilombolas do Vale do Jequitinhonha a ingressar no Programa de Antropologia da UFMG, uma área de suma importância para as comunidades de remanescência quilombola, tendo em vista que são os profissionais da área antropológica que fazem os estudos para titularização coletiva dos territórios quilombolas, e há poucos profissionais com este perfil o que dificulta este trabalho.
      Sonhar é sim possível, basta acreditarmos em nós mesmos, não há limites para os sonhos, que outros e outras Raqueis continuem a sonhar, todos nós temos os mesmos direitos, o direito de ocuparmos as Universidades Federais, seja em graduação, mestrado ou doutorado, que Raquel sirva de inspiração a todos os nossos jovens que mantém vivo dentro de si o direito de “sonhar alto”, por que sonhar é sim poder!

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O sonho do Instituto Federal Quilombola

    Arte: Jashad Macbee Depois de meses de lutas, expectativas, articulações e medos, no coração da renovação educativa e cultural do Br...